novembro 26, 2011

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Lúcia era garçonete e voltava de uma reunião com seus amigos do colégio. Ela caminhava bem rápido segurando sua bolsa a frente do corpo. Alguém a estava seguindo.

A rua estava deserta aquela hora da noite, a faixada dos comércios e a luz dos poucos carros que cruzavam a rua, transformavam a paisagem urbana em algo depressivo e melancólico.

Ela suava e seu coração parecia não caber mais dentro do peito. Seus passos estavam trópegos e sua vista estava começando a ficar embaralhada. O medo a consumia.

Começou a correr deixando pra trás sua bolsa e seus sapatos. Correu pela sua vida. Correu para poder não ser vítima daquele louco que a perseguia.

Ela chegou na porta da sua casa e desatou a chorar. Um choro desesperado por achar que poderia acontecer aquela situação outras vezes, e ao mesmo tempo aliviado por não ter sido vítima de nenhuma maldade.

Entrou na sua casa e foi direto pro quarto de sua irmã. Desde criança ela era seu refúgio.

Abriu a porta chorando e sentou-se de frente a ela que estava lendo um livro.

Cris era estudante de psicologia e estudava para uma prova muito importante, era tartde da noite quando sua irmã entra em seu quarto desesperada. Ela se sobressaltou com a cena:

- O que aconteceu? Você ta bem?

As duas se abraçaram e a irmã esperou que ela se acalmasse.

- Me fala o que aconteceu?

- Tentaram me matar - seu choro não parava - Eles querem me pegar!!

- Quem quer te pegar?

- Um homem mau. Um que me seguiu até a rua e desistiu quando cheguei perto do portão. Se eu não tivesse corrido ele teria me matado. Não deixe ele me pegarem por favor. Por favor.

Ela estava apavorada e apertava sua irmã com muito mais força do que o necessário.

- Calma! Você tá em casa e aqui não vai te acontecer nada. Agora me fala devagarinho, tenta se acalmar. Quem estava te perseguindo, como ele era?

- Ele era alto igual um gorila, e tinha um rosto deformado. Ele usava uma roupa preta. Toda preta! E quando andava fazia um barulho de chaves ou algo que balançava e tinha um som metálico. Ele vai tentar de novo! Você precisa me salvar.

A irmã levou as mãos à cabeça. Esse homem não existia. Ela dera a descrição do homem que protagonizou seus pesadelos durante grande parte de sua infância. Ele era uma manifestação do inconsciente da garota. Ela como estudante de psicologia deveria saber disso, então começou o interrogatório.

- Ok, primeiro você precisa se acalmar. Você viu esse homem, ou apenas teve a impressão de que ele o perseguia? Isso é muito importante e você deve responder com toda sinceridade.

- Eu o vi! Você tem que acreditar em mim. Ele estava meio distante, mas eu pude ve-lo.

- Como você sabe que ele queria te fazer o mal? Ele estava armado? Você disse que estava a uma distancia considerável dele. Como pode saber?

- Eu soube na mesma hora que o vi. Primeiro eu senti medo e depois tudo se confirmou quando ele correu atrás de mim.

A irmã não estava nem um pouco convencida de sua história. Ela tranquilizara sua irmã na infância por diversas vezes, e seu sonho tinha as mesmas caracteristicas. Não passava de fantasia novamente.

- Você o viu correr?

- Não mas eu ouvi o barulho das chaves se aproximando bem rapido. Eu tive muito medo. Vamos pegar uma faca pra nos proteger. Vamos até a cozinha comigo. Chame a polícia Cris!

Era pior do que imaginava. Sua irmã tivera alucinações, delírios e agora apresentava uma conduta psicótica. Logo ela que era uma pessoa tão centrada. Ela precisava de ajuda.

- Por favor já te pedi que se acalme. Não vamos fazer nada porque não há perigo nenhum aqui dentro. Fica tranquila. Você pode dormir aqui no meu quarto se quiser.

Ela não estava acreditando no que estava ouvindo. Como não havia perigo, se quase fora morta a poucos instantes? Ela saiu do quarto irritada, caminhou até a cozinha sem acender a luz. Precisava de uma faca para se proteger. Achou a gaveta e abriu. Escolheu a faca mais afiada que tinha quando viu passar pela janela um vulto e a luz se acendeu.

- Lúcia!

Ela gritou e a faca caiu no chão manchada de sangue.

- Você se cortou Lú. Não chora, eu te disse que já passou. Não tem nada para temer sua boba. Vem deitar comigo, amanhã agente conversa melhor.

As mãos da garota estavam banhadas em sangue. Fizera um corte profundo na palma da mão.
As duas se abraçaram e foram deitar-se juntas.

Lúcia soluçou durante uns dez minutos e dormiu.
Cris ficou olhando a irmã dormir com a mesma expressão que tinha quando era uma garotinha assustada. Ela também dormiu.
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Luzes fortes e um movimento enorme de pessoas estavam no quarto. Que barulheira é essa?

- Podem algema-la! - Disse uma voz autoritária com um timbre grave - Cristianne Reis você está presa por homicídio doloso e tem o direito de permanecer calada. Levem essa cadela daqui!

Ela estava assustada, onde estava sua irmã?

- Onde está a Lúcia? Cadê a minha irmã?

O homem com o distintivo no pescoço disse:

- Você deve saber sua vadia. Olhe para o sangue na sua roupa.

- Não não, deve estar havendo um engano, esse sangue foi de ontem quando minha irmã se cortou acidentalmente com uma faca. Ela me abraçou a acabou sujando meu pijama.

- Acidentalmente? Você chama isso de acidente?

O policial retirou uma lona que cobria uma saliência no tapete revelando o corpo de sua irmã ensanguentado e com várias perfurações. Ao lado do corpo estava a faca que Lúcia se cortou.

Cris se impressionou com a cena e não conseguiu dizer mais nada, estava em estado de choque. Apenas pode ver pela janela, a silhueta de um homem com um sobretudo negro e um rosto desfigurado...

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