julho 15, 2013

Falas de um adolescente

Enquanto vejo pessoas compartilhando seus pedaços do paraiso, encontro-me aqui nesse quarto gelado, deitado, apreciando a paisagem estática e sem vida que outrora me trouxe tanto conforto, mas que agora faz com que eu me sinta um ser pequeno, pouco aproveitável.

Nem tudo que vejo me parece real. Nem tudo que acompanho parece verdade.

Quando tudo isso irá deixar de rodar e parar em uma posição que eu possa enxergar o real e me certificar de que tudo não passa de uma ilusão? Essa ilusão que insisto em acreditar mesmo sabendo que atrapalha meus sentidos e que deforma minha alma, deixando-me como um qualquer. Uma pessoa insignificante que não é capaz de jogar os dados e pedir sorte aos anjos, aos Deuses, ou até mesmo recorrer a capacidade divina do seja o que tiver de ser? Quando vou me enquadrar a essas vida celestial que me vendem todos os dias?

Quero ser diferente, e ao mesmo tempo quero ser igual. Quero que me vejam, que me elogiem, mas não quero receber criticas. A perfeição me cerca, mas é invisível aos olhos pretensiosos daquelas que só sabem ver seus próprios reflexos. Quando fazer de tudo um nada, e quando fazer do nada o seu grande tudo?

Pare de perguntar e comece a sentir.

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Um rascunho de muito tempo atrás . 

novembro 26, 2011

P 1

Lúcia era garçonete e voltava de uma reunião com seus amigos do colégio. Ela caminhava bem rápido segurando sua bolsa a frente do corpo. Alguém a estava seguindo.

A rua estava deserta aquela hora da noite, a faixada dos comércios e a luz dos poucos carros que cruzavam a rua, transformavam a paisagem urbana em algo depressivo e melancólico.

Ela suava e seu coração parecia não caber mais dentro do peito. Seus passos estavam trópegos e sua vista estava começando a ficar embaralhada. O medo a consumia.

Começou a correr deixando pra trás sua bolsa e seus sapatos. Correu pela sua vida. Correu para poder não ser vítima daquele louco que a perseguia.

Ela chegou na porta da sua casa e desatou a chorar. Um choro desesperado por achar que poderia acontecer aquela situação outras vezes, e ao mesmo tempo aliviado por não ter sido vítima de nenhuma maldade.

Entrou na sua casa e foi direto pro quarto de sua irmã. Desde criança ela era seu refúgio.

Abriu a porta chorando e sentou-se de frente a ela que estava lendo um livro.

Cris era estudante de psicologia e estudava para uma prova muito importante, era tartde da noite quando sua irmã entra em seu quarto desesperada. Ela se sobressaltou com a cena:

- O que aconteceu? Você ta bem?

As duas se abraçaram e a irmã esperou que ela se acalmasse.

- Me fala o que aconteceu?

- Tentaram me matar - seu choro não parava - Eles querem me pegar!!

- Quem quer te pegar?

- Um homem mau. Um que me seguiu até a rua e desistiu quando cheguei perto do portão. Se eu não tivesse corrido ele teria me matado. Não deixe ele me pegarem por favor. Por favor.

Ela estava apavorada e apertava sua irmã com muito mais força do que o necessário.

- Calma! Você tá em casa e aqui não vai te acontecer nada. Agora me fala devagarinho, tenta se acalmar. Quem estava te perseguindo, como ele era?

- Ele era alto igual um gorila, e tinha um rosto deformado. Ele usava uma roupa preta. Toda preta! E quando andava fazia um barulho de chaves ou algo que balançava e tinha um som metálico. Ele vai tentar de novo! Você precisa me salvar.

A irmã levou as mãos à cabeça. Esse homem não existia. Ela dera a descrição do homem que protagonizou seus pesadelos durante grande parte de sua infância. Ele era uma manifestação do inconsciente da garota. Ela como estudante de psicologia deveria saber disso, então começou o interrogatório.

- Ok, primeiro você precisa se acalmar. Você viu esse homem, ou apenas teve a impressão de que ele o perseguia? Isso é muito importante e você deve responder com toda sinceridade.

- Eu o vi! Você tem que acreditar em mim. Ele estava meio distante, mas eu pude ve-lo.

- Como você sabe que ele queria te fazer o mal? Ele estava armado? Você disse que estava a uma distancia considerável dele. Como pode saber?

- Eu soube na mesma hora que o vi. Primeiro eu senti medo e depois tudo se confirmou quando ele correu atrás de mim.

A irmã não estava nem um pouco convencida de sua história. Ela tranquilizara sua irmã na infância por diversas vezes, e seu sonho tinha as mesmas caracteristicas. Não passava de fantasia novamente.

- Você o viu correr?

- Não mas eu ouvi o barulho das chaves se aproximando bem rapido. Eu tive muito medo. Vamos pegar uma faca pra nos proteger. Vamos até a cozinha comigo. Chame a polícia Cris!

Era pior do que imaginava. Sua irmã tivera alucinações, delírios e agora apresentava uma conduta psicótica. Logo ela que era uma pessoa tão centrada. Ela precisava de ajuda.

- Por favor já te pedi que se acalme. Não vamos fazer nada porque não há perigo nenhum aqui dentro. Fica tranquila. Você pode dormir aqui no meu quarto se quiser.

Ela não estava acreditando no que estava ouvindo. Como não havia perigo, se quase fora morta a poucos instantes? Ela saiu do quarto irritada, caminhou até a cozinha sem acender a luz. Precisava de uma faca para se proteger. Achou a gaveta e abriu. Escolheu a faca mais afiada que tinha quando viu passar pela janela um vulto e a luz se acendeu.

- Lúcia!

Ela gritou e a faca caiu no chão manchada de sangue.

- Você se cortou Lú. Não chora, eu te disse que já passou. Não tem nada para temer sua boba. Vem deitar comigo, amanhã agente conversa melhor.

As mãos da garota estavam banhadas em sangue. Fizera um corte profundo na palma da mão.
As duas se abraçaram e foram deitar-se juntas.

Lúcia soluçou durante uns dez minutos e dormiu.
Cris ficou olhando a irmã dormir com a mesma expressão que tinha quando era uma garotinha assustada. Ela também dormiu.
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Luzes fortes e um movimento enorme de pessoas estavam no quarto. Que barulheira é essa?

- Podem algema-la! - Disse uma voz autoritária com um timbre grave - Cristianne Reis você está presa por homicídio doloso e tem o direito de permanecer calada. Levem essa cadela daqui!

Ela estava assustada, onde estava sua irmã?

- Onde está a Lúcia? Cadê a minha irmã?

O homem com o distintivo no pescoço disse:

- Você deve saber sua vadia. Olhe para o sangue na sua roupa.

- Não não, deve estar havendo um engano, esse sangue foi de ontem quando minha irmã se cortou acidentalmente com uma faca. Ela me abraçou a acabou sujando meu pijama.

- Acidentalmente? Você chama isso de acidente?

O policial retirou uma lona que cobria uma saliência no tapete revelando o corpo de sua irmã ensanguentado e com várias perfurações. Ao lado do corpo estava a faca que Lúcia se cortou.

Cris se impressionou com a cena e não conseguiu dizer mais nada, estava em estado de choque. Apenas pode ver pela janela, a silhueta de um homem com um sobretudo negro e um rosto desfigurado...

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outubro 04, 2011

O fim

Por um momento achei que minha vida teria um fim.

"Muito bom ter te conhecido. A noite foi maravilhosa. Acho que estou apaixonada!"

Esse recado apareceu no meu facebook.
Em baixo dele estava um recado da minha esposa que dizia.

"Cachorro! Em casa conversamos!"



Meu Deus do céu!!! Morrerei essa noite.
Comecei a me lembrar das minhas roupas preferidas, e a escolher com qual eu gostaria de ser enterrado.

A coincidencia era terrível.

No dia anterior eu liguei para minha esposa e falei. "Amorzinho vou beber uma cerveja com o pessoal do serviço e já já estou ai."

Agora aparece esse recado maldito.

Quem era aquele mulher imbecil que tinha estragado meu casamento com aquele recado inutil.

O detetive interior que se desenvolveu ao longo de varios romances de Conan Doyle e de Aghata Cristie começou a investigar.

Cliquei na foto daquela mulher loira, com seios salientes e uma boca carnuda em um meio sorriso.

Comecei até a querer que tivesse acontecido de verdade e que tivessemos tido um caso, ou uma noite maravilhosa como aquela que ela descreveu. Mas eu nem conhecia aquele mulher. Mas conhecia muito bem a minha, e pelos meus calculos estava fazendo uma armadilha com guilhotinas na porta, ou instalando uma bomba do tipo C4 no meu carro.

Entrei no perfil da loira bonitona e percebi que não havia amigos em comum.

Algum filho da mãe fez isso para me ferrar. Esse perfil é fake.

Quem teria um motivo?

Que droga!

Mandei um recado de volta dizendo assim:

"Eu não conheço você! E por causa dessa sua brincadeira pode acabar o meu casamento. Para com essas besteiras!"

Esse foi o recado mais mal criado que consegui mandar, afinal não se pode xingar uma mulher.

Meu celular tocou nesse momento.
Número desconhecido.

- Alô.

- Oi querido. Lembra de mim? Natasha.

Puta que pariu! A unica Nathasha que eu conheço é a da musica do Capital Inicial e mesmo assim nem dessa eu gosto.

- Moça acho que telefonou errado.

Nesse momento percebi que eu estava falando com a mesma mulher que tinha me mandado aquele recado no facebook .Coloquei o celular em viva voz, e com o celular da empresa que estava próximo comecei a gravar a conversa.


- Hei foi você que me mandou aquele recado no facebook não foi? Eu não a conheço e isso pode me custar caro. Minha esposa vai pedir o divórcio e a guarda das crianças. A pensão que ela vai cobrar eu não vou conseguir pagar, porque ela parcelou um vestido caríssimo em 12 vezes no meu cartão de crédito, e ainda está na quarta parcela. Vou para cadeia! Isso sendo otimista é claro. Pode ser que amanhã eu não veja a luz do dia.

Silencio na linha.

- Alô. Natasha você ta ai?

- Meu nome não é Natasha. Me desculpe pela brincadeira, na verdade meu nome é Maria de Fátima e sou amiga do Carlos que trabalha com você. Ele que me pediu para fazer isso.

Aquele safado!!

Eu tinha uma confissão, e já não precisava mais me preocupar em dar as mil duzentas e quatorze desculpas que me ocorreram na mente. Minha vida estava salva.

Desliguei o telefone e liguei para minha esposa.

- O que você quer? - A mulher atendeu o telefone com uma voz de coronel aposentado que descobre que a filha engravidou de um funkeiro.

- Tudo bem amor? Antes que você chame a minha mãe de nomes feios, eu gostaria de dizer que aquele recado que você viu foi obra de uma brincadeira idiota do Carlos. Em casa nos falamos melhor, só queria já te deixar ciente.

- Você acha que sou uma estúpida? O Carlos foi com você no happy hour ontem. É fácil vocês combinarem uma desculpa pra mim! Fale a verdade fica mais bonito. Você estava bebado e aquela piranha deu em cima de você. Como bom idiota que é, você ficou com ela e ainda passou o seu facebook. Ai que ódio eu tenho de você!!

Aquela ultima frase o vez sentir calafrios. A ultima vez que ela disse que estava com ódio de alguém, foi no posto de gasolina quando o frentista disse que a maquininha do VISA estava fora de sistema. Ela tentou atropela-lo.

Ela desligou o telefone na minha cara.

Ferrou tudo! O Carlos não poderia me ajudar a desfazer a merda que ele próprio criou porque ela achava que eramos comparsas.
Pedir pra Maria de Fátima ligar pra ela também não resolveria. Ela nunca ia acreditar.

Sem opções, chegou a hora de ir paara casa.

O escritório estava deserto e sombrio. Parecia que os fantasmas estavam me esperando em cada curva do corredor.

Peguei a minha pasta e desci pelo elevador morrendo de medo que minha mulher cortasse as cordas.

Entrei no carro e fui em direção a minha casa.

Chegando à frente da residencia, tudo me parecia tranquilo. Tranquilo até demais. Apaguei as lanternas do carro e resolvi estaciona-lo na esquina.
Fui caminhando devagar até a janela e arrisquei uma olhada rápida para dentro da casa. Vi um reflexo passar.

Droga ela está armada!!!

Retirei as chaves do bolso e coloquei na maçaneta, orando em silencio.

Ela trocou a fechadura!!
É certeza que amanhã de manhã serei um novo integrante do MST.

Ela quer que eu toque a campanhia para que ela me receba a facadas como faria o Jason!

Eu sou mais esperto.

Fui para a porta dos fundos. Ela estava apenas encostada.
Eu já não sabia mais o que ela queria que eu fizesse. Ela parecia entrar na minha mente, prevendo as minhas ações.

Empurrei a porta decidido quando derrepente!!

- Parabenssss pra você!!! Nessta dataa querida!!

Todos os meus amigos estavam reunidos em minha casa, incluindo o Carlos.

Não consegui conter o sorriso e o alívio ao ver minha esposa gargalhando.

A festa seria ótima, só precisava trocar de cueca antes....

maio 07, 2011

Direita ou esquerda.


O caminho é negro, assustador, melancólico, mas tem que ser percorrido.


As pessoas são diferentes, orgulhosas, independentes, mas precisam andar juntas.



Por horas caminhavam em um passo lento por entre as paredes daquele labirinto.
Ela se sentia enjoada.
Ele estava mais preocupado com o que ela estava pensando a respeito daquele labirinto que se encontravam, do que em achar a saída.

Eles andavam devagar sem quase trocarem palavras ou olhares.
O caminho se dividia a todo momento, e ele estava tomando as decisões, pois a moça não expressava nenhuma reação de escolher um caminho.
Aquela situação estava ficando quase insuportável. O caminho não terminava nunca. Ela quebrou o silêncio:

- Nós já passamos por aqui umas mil vezes. Lá atrás deveríamos ter entrado a esquerda.

Ele a olhou irritado. Sabia que era questão de tempo até brigarem. Ninguém consegue conviver muito tempo sem uma hora dizer realmente o que pensa:

- Agora que você fala? Estou indo por onde me parece certo. Eu não sabia que estava errado, e se você sabia poderia ter me dito.

Ela pareceu não se conformar com aquilo que ele dissera, afinal de contas estava só tentando ajudar. Virou as costas e começou a caminhar na frente sem espera-lo.

Vendo ela virar as costas, percebeu que aquele caminho seria mais longo do que imaginava. Apressou-se e a puxou pelo braço:

- Agente precisa ficar junto. Separados as coisas vão ser bem piores.

- Será mesmo?

- O que você acha?

- Acho que sobreviveríamos separados.

Silêncio.

Não imaginava que aquilo tomaria uma proporção tão grande. Seria o fim?

-Faça como achar melhor. E espero sinceramente que encontre seu caminho.

Chegando a primeira bifurcação, cada um tomou um caminho.

Ela o olhou virar as costas e sentiu um nó na garganta, mas era orgulhosa demais para voltar atrás. Estava feito, agora era só ela e ninguém mais. Não precisava de ninguém, sempre fora assim. Não queria depender dele para as coisas, mas o simples fato de estarem juntos, a confortava. Uma lágrima escapou de seu olho. Continuou o caminho.


 Ele estava desesperado. Onde tinha errado? Sempre fizera de tudo para ficarem bem. Os caminhos errados não eram totalmente de sua responsabilidade, afinal de contas ele nunca tinha entrado naquele labirinto. Tinha que seguir sozinho. Pela primeira vez estava totalmente sozinho. Odiava aquilo, mas com fé seria uma situação rápida, agora que estava sozinho ele perdeu o medo de errar e seguiu totalmente sua intuição.
Algum tempo depois ele encontrou a saída.

Estava fora daquele labirinto. Mas tinha perdido a garota.
Não sabia o que era pior, ficar lá dentro perdido com a garota, ou fora do labirinto sem ela.

Ela andou por muito tempo dentro daquele labirinto e ao faze-lo lembrou-se de cada momento que passaram juntos. Com certeza preferiria estar com ele. Talvez nunca mais achasse a saída, mas o que lhe confortava era saber que ele nunca saberia se ela encontrou a saída ou não.
 Após alguns anos ela encontrou a saída.

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Qual é o caminho certo?

Pessoas diferentes vêem caminhos diferentes... Alguém está errado, ou só leva um pouco mais de tempo para encontrar a saída?

abril 12, 2011

A janela do outro.


Eu não passava muito tempo com ele.
Não era porque eu não gostava, mas porque realmente não tinhamos muito assunto.
Nosso relacionamento era muito superficial.

Nunca vou me esquecer do dia em que ele quis me levar para pescar.

Acho que foi a única vez que ele me chamou para alguma coisa que não fosse por obrigação.
Eu vi em sua face um sorriso juvenil que eu nunca tinha notado. Se fosse em outra época com certeza eu recusaria, mas como eu queria muito me aproximar dele, eu topei.

Estava tudo combinado, e sábado íamos levantar cedo, pegar a mochila que já deveria estar pronta e sair.
Minha mãe não ia. Melhor ainda, eu teria um tempo a sós com meu pai.

Sexta feira fui me deitar um tanto ansioso. Eu ia passar um sábado inteiro pescando, coisa que eu sinceramente não vejo a menor graça, mas era por uma boa causa. Minha namorada não ia deixar de gostar de mim por causa de um sábado que não ficássemos juntos.

Tive a impressão de que nem cheguei a dormir, e meu pai já estava no pés da minha cama resmungando:

- Já são 5:20. Eu tinha certeza que você ia se atrasar. Se não quiser ir não tem problema! Não faça nada por obrigação.

Eu mal consegui identificar o que ele dizia, pois minha cabeça estava pesada e minha visão embaçada. Levantei sem dizer nada a ele e fui me arrumar.

Ele não esperou que eu comesse, já estava dentro da Brasília antiga, com aquela expressão séria que tanto me irritava. Entrei no carro comendo uma maçã, afivelei o cinto e nós partimos.

Os planos de me aproximar do Sr. Rabugento estavam indo mal.

Ele dirigiu sem ao menos me lançar um olhar durante todo o caminho.
Chegando a estrada de terra que levaria ao pesqueiro eu arrisquei um comentário:

- Aquele rio é bonito, deve ser bom de pescar.
- Aquele rio é poluído, fedorento e não tem peixes.

Eu não conseguia dizer mais nada.
Como alguém poderia ser tão injusto? Aquele rio era perfeito. Não sou um Expert na arte de pescar, mas só falei para ser legal.

Nós paramos em um lugar tranquilo e fomos pescar. O silêncio entre nós era constrangedor, e eu nem se quer vi como se pesca. Minha mente estava em outro lugar.
Voltamos para casa em sem nos olhar muito, e o som que tocava era o de um CD de rock antigo que eu detestava. Nem isso serviu como assunto.

Nunca vou me esquecer desse dia.

Meu pai faleceu alguns meses após esse fato.

Eu sentia muita culpa, porque achava que eu não tinha sido o filho que ele imaginava. Minha mãe me mostrou as fotos de quando eu era um bebê, e o sorriso no rosto dele era impagável. Eu conseguia ver a alegria ao me segurar. Mas conforme o tempo foi passando me parece que ele foi se afastando, talvez se decepcionando. Eu nunca o intendi.

Hoje tenho o meu filho.

Procuro entende-lo. Ele é meio rebelde, passa a maior parte do tempo sozinho em seu quarto.
Eu tento me aproximar, mas ele não compartilha em nada o meu gosto pelas coisas.

Chamei o para pescar.

Naquele mesmo lugar onde um dia fui com meu pai.

Ele para minha surpresa, aceitou. Fiquei muito feliz. Era a primeira vez que ele topava fazer alguma coisa comigo sem ser obrigado.
Combinamos de sair bem cedo no outro dia.

Ele não parecia muito interessado na pescaria, pois ficou no computador até tarde.

Fiquei na cama sem conseguir dormir por um tempo, e acordei antes do despertador de tamanha ansiedade. Esperava ver meu filho já na cozinha se arrumando, mas ele ainda estava dormindo. Fui até lá já na intenção de cancelar o passeio. "Não adianta fazer as coisas obrigadas, deve ir se realmente quiser."
Ele me olhou com cara de sono e foi para o banheiro batendo a porta.

Droga!
Começamos mal.

Entrei no carro e o aguardei.
Ele chegou com a cara amassada de sono e entrou comendo uma fruta na clara intenção de me irritar, pois sabe perfeitamente que eu não gosto de coma dentro do carro. "Vou ficar calmo!"

Nós partimos.
A viagem estava bem tranquila, e eu não parava de pensar em como eu ia dizer ao meu filho que eu nunca tinha pescado e que não ia conseguir ensina-lo. Eu estava começando a ficar tenso, a única vez que meu filho saia para aprender algo comigo, e eu não seria capaz de ensina-lo.

- Aquele rio é bonito, deve ser bom para pescar - disse ele.

Eu olhei pela pela janela espantado, porque enxerguei um rio sujo, com lixo boiando e sem nenhuma pessoa por perto. Será que ele estava sendo irônico comigo? Não! Lembrei me da cena de anos atrás. Logo percebi a que rio meu pai tinha se referido quando disse aquela frase que tanto me magoou. Agora via a vida da janela em que meu pai viu. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao me lembrar daquele dia. Olhei pela janela do meu filho e disse:

- Realmente filho esse rio é muito bonito, podemos parar aqui.

Nós descemos do carro e mesmo sem saber muito o que fazer nós pescamos até que veio uma forte chuva, o que arrancou de nós algumas risadas e com isso selou o nosso encontro que até hoje eu guardo dentro do peito com muito carinho. Como eu gostaria que tivesse sido assim entre eu e meu velho...

Só hoje vejo as coisas como ele via. Tinha seu jeito esquisito de se comportar as vezes, mas nunca deixou de me dar amor, só que da sua maneira.


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Baseado no relato de uma garota em tratamento psicologico. Ela aprendeu uma lição e nos ensinou outra...

abril 05, 2011

Igual a todos

Sei que a vida é boa.
Pelo menos a televisão faz de tudo para você pensar que a vida ideal está nela, e que haja o que houver você precisa de uma vida como aquela. Como esse tipo de vida é para poucos, me levantei e fui trabalhar.

Sai de casa, meio dormindo, bebendo um café frio em um copo estampado de requeijão.

Desci as escadas e parei dois minutos na portaria para entregar ao porteiro que estava tão satisfeito com a vida quanto eu, a chave do "apertamento". Ele me olhou com a cara de sono mais feia que eu já vi na vida e a pegou.

No ponto de ônibus, algumas pessoas impacientes com a demora do ônibus nem notaram a minha chegada. Algumas estavam com fone nos ouvidos, na esperança de dar uma trilha sonora a vida sem graça que levavam. Elas se comunicavam com as outras apenas para perguntar a hora e reclamar do motorista que era um preguiçoso e não chegava no ponto logo. Essas pessoas estavam tão satisfeitas com a vida quanto o porteiro do meu prédio.

O ônibus chegou depois de alguns minutos, e todos esqueceram a função da fila. Se empurraram para entrar, porque talvez o ônibus tenha um numero limitado de passageiros que podem embarcar, ou talvez porque elas não tem educação mesmo.
O motorista via as mesmas pessoas todos os dias, em seus ternos de liquidação e seus perfumes fortes que serviam para esconder o suor que aparecia devido ao clima estressante a que eram expostos no ambiente de trabalho. Ele sim estava feliz com a vida. Acordava umas três horas antes daquele povo todo, ia até a padaria onde comprava o pão que não era lá essas coisas, e ia trabalhar cedo, para ouvir um bando de pessoas reclamonas que se queixavam dele, como se ele fosse dono da empresa de ônibus. Estava tão feliz com a vida quanto aqueles passageiros.

Eu me dirigi ao final do ônibus, onde por um milagre havia um banco vazio. Passei pelo cobrador que dormia e sentei. Com um fone no ouvido e um livro na mão, fiquei esperando alguma senhora idosa vir me pedir o lugar com os olhos como frequentemente acontecia. E não demorou. Uma senhora entrou carregando duas sacolas e sua bolsa a tira-colo. Ela parou no corredor do ônibus e tossiu na tentativa de ser vista e assim ganhar o tão precioso lugar. Acho que naquele momento Morfeu o Deus grego do sono atirou sobre os passageiros um feitiço, pois o único que ficou acordado fui eu. "Tenho 60 e poucos anos, to cansada, trabalhei a vida inteira e quero sentar". Eu me levantei antes dela fazer esse discurso, pois a senhora pela expressão fácil estava tão contente com a vida quanto o motorista da condução.

Desci no terminal e fui até o meu trabalho.

Lá sim eu admito que as pessoas tem motivo para estarem descontentes.
O pessoal ganha mais que a maioria dos munícipes paulistas, e trabalha menos que a metade deles, mesmo assim  insistem em reclamar do salário. "É um absurdo a gente ganhar só isso". Estavam todos unidos por uma causa justa, que é.... sei lá, ganhar mais do que merecem talvez.. Quem pode descordar?  Talvez a senhora do ônibus. Eles estavam igualmente insatisfeitos.

Depois de uma hora e meia fingindo que estávamos trabalhando chegou nossa chefe.
Mulher nova, fazendo pôs graduação, com salário bom e estabilidade. Poderia viver nessa situação durante sua vida inteira,que seria considerada bem sucedida. Mas ela não estava sorrindo. Estava hiper-triste porque seu trabalho estava exigindo demais dela, seu noivo não ajudava com as despesas de casa e seu cachorro não conseguia fazer coco no lugar certo. Essa sim estava com problemas. E eu reclamando da vida a toa, vê se pode.

No fim do dia a faculdade.

A faculdade!!
Lá sim é um lugar onde eu vejo as pessoas bem felizes, todos conversando e dizendo que o céu é azul, e que a vida é linda. Todos querendo ser os atores de Malhação talvez.
Lá é o lugar de mentir e ver a vida da melhor forma.
Para no outro dia, ver as mesmas caras emburradas e torcer para que o tédio não nos mate...

Esta é a vida sóbria
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fevereiro 25, 2011

The Road

Até que ponto iriamos para sobreviver?
O que você faria para ver a pessoa que ama bem e feliz?

Imagine-se em um mundo caótico onde tudo está perdido, comida, água e as poucas pessoas que restam só pensam em esterminar as outras para que aja menos concorrencia.

Se você faz qualquer coisa para sobreviver e para ver a pessoa que ama feliz, o que difere você dessas pessoas que aniquilam as outras?

E mesmo em um mundo sem esperança e com influencias negativas por todos os lados a "chama" pode existir dentro de algum ser.

"Nós seremos os mocinhos independente do que fizermos?"
A maioria das pessoas prefere achar que sim!

"A estrada" trata de todos esses temas, recomendado:





janeiro 25, 2011

20 dias

- Droga de despertador!!!

Meia hora atrasado de novo. Porque ninguém me acordou?

É verdade estou sozinho.

No banheiro apenas uma toalha pendurada.

Silencio em toda a casa.
Ao sair ninguém me dá um beijo de bom dia.

Hora extra no trabalho.
Ninguém me ligou para saber se estava tudo bem.

Chegando em casa, tudo escuro.
Vou ao banheiro e pela primeira vez em vinte e um anos meu chinelo está no mesmo lugar que o deixei.

Esquento a comida da geladeira e como sozinho.
Não tem o mesmo gosto.

Bom não é de todo o mal, pelo menos agora posso ler aonde eu quiser já que não há barulho para incomodar.
 A leitura dura em torno de dez minutos. Está na hora do jornal mas ninguém liga a televisão.

Posso ver um filme já que agora ninguém vai dizer que quer ver outra coisa. Ninguém com quem comentar sobre o filme, e nem barulho de maquina para atrapalhar.

Todas as coisas que atrapalhavam agora não existem.
Elas realmente atrapalham, ou eu é que implico demais com elas?

Deve ser assim que se aprende a valorizar as coisas.
Felizmente as coisas voltarão ao normal em breve, fazendo com que eu queira estar sozinho de novo.